AS ORIGENS

11/07/2012 13:51

AS ORIGENS

O dr. Ângelo Augusto Decânio Filho (Mestre Decânio), o mais idoso "Filho de Bimba" ainda vivo, decano da Capoeira Regional, médico e filósofo, pesquisador da capoeira, contribuiu recentemente com interessantes observações sobre a questão da origem da capoeira. Estudando os ritmos do candomblé, percebeu que o ritmo básico de Logunedê ("...no disco de Luiz da Muriçoca...") corresponde às batidas do pandeiro na capoeira; trocando informações com o pesquisador Pierre Verger (Fatumbi Verger), ouviu deste: "uma tarde... ouvindo mestre Waldemar ao berimbau... enquanto o auto-falante da praça irradiava um toque Ijexá... percebi nitidamente a identidade dos ritmos."

Podemos concluir, com eles, que...

"...o candomblé é a fonte mística...

...donde brota a magia da capoeira!"

Observaram ainda similitudes entre os movimentos da capoeira e os movimentos das danças rituais do candomblé, e outras semelhanças: no candomblé, o ritmo dos atabaques é o nexo entre "os Orixás e o Vodunce", assim como na capoeira, o estilo do jogo acompanha a musicalidade do toque.

...é a musicalidade do toque

que impõe o tom do jogo...

Prosseguindo em suas investigações, constataram a presença do berimbau no antigo Congo Belga (atualmente o Zaire), território dos bantos. Este fenômeno – a união de um ritmo Ijexá a um instrumento musical banto –, ponderaram eles, só pode ter sido gerado em presença amistosa dos elementos primários, o que não foi possível na África, considerando o distanciamento geográfico e cultural das duas nações;

"... na Bahia houve o encontro dos dois povos... uma aproximação mais íntima, pacífica, ao calor dum inimigo comum e duma escravidão compartilhada!"

Assim, conclui mestre Decânio, "...o Recôncavo Salvadorenho foi o cadinho onde se fundiu a 'liturgia musical' que há de unir os homens na alegria da capoeira."

“A capoeira é o processo complexo constituído pela fusão ou caldeamento de fatores de várias origens: 1. dos africanos herdamos os movimentos rituais fundamentais do candomblé: dos iorubás recebemos o ritmo ijexá e a rima tonal a cada três estrofes, enquanto os bantos nos ofereceram o berimbau, o instrumento fundamental; 2. os portugueses nos doaram, através da dança popular da chula, o uso do improviso (chula), do pandeiro e da viola; 3. os brasileiros forneceram a nomenclatura dos movimentos, os temas dos cantos (fundo cultural literofilosófico popular), o ritual, os métodos de ensino, as modificações fonéticas dos termos usados nos cantos.

"No Brasil, a fusão de elementos africanos aos fatores locais (portugueses e indígenas) originou, a partir do ritmo ijexá, uma família de manifestações culturais, cuja raiz comum lhes empresta uma similitude rítmica e coreográfica (...)"

Parece-nos evidente que a capoeira reúne todos estes componentes originais, o que lhe outorga uma excepcional riqueza artística, melódica e dinâmica; um enorme potencial evolutivo e, finalmente, uma gama intensa de aplicações esportivas, coreográficas, terapêuticas, pedagógicas, etc., que abrange desde o simples jogo às franjas das artes marciais e da defesa pessoal.

Contudo, apesar da fonte mística do candomblé, é absolutamente leiga a arte da capoeira, jogo de destreza corporal destinado a treinar física e mentalmente os escravos para os embates da sua luta de libertação.

A Capoeira nasceu e cresceu aqui, sob as condições da escravidão. Atesta-o o princípio que funda a luta, o da dissimulação, que faz evitar o confronto direto e a torna muito mais perigosa, muito mais traiçoeira.

 


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